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Ser pai ou ser mãe: nenhuma missão é mais desafiadora, mais nobre

Educar um filho ou filha é a tarefa mais nobre – e uma das mais difíceis – que o Bom Deus concedeu à espécie humana. Em meio a tantas vicissitudes do mundo contemporâneo, com incertezas, volatilidades e ambiguidades, ser pai ou mãe é estar sempre se equilibrando na gangorra da vida, com muitas alegrias e desafios. Como nenhum rebento vem com manual de instruções, educar é conviver com erros e acertos, uma missão da qual não se tem “o direito de se aposentar”.

Paradoxalmente, as palavras são menos efetivas ao transmitir valores, pois mais eloquentes e eficazes são os exemplos. Educamos muito pelo “como somos”, pouco pelos “cromossomos”: nosso patrimônio cognitivo, moral e espiritual precisa ser replicado e transmitido de geração para geração. E nesse mister, 10 tarefas são essenciais para um bom legado nessa divina missão:

1) Preparar para a vida adulta: é dar gradativamente autonomia para a criança resolver as situações adversas que enfrenta. A psicóloga Maria Estela E. Amaral Santos é enfática sobre a superproteção: “possivelmente será um adulto inseguro, indeciso, dependente, que sempre necessitará de alguém para apoiá-lo nas decisões, nas escolhas, já que a ele foi podado o direito de agir sozinho”. O caminho da evolução pessoal não é florido, tampouco pavimentado. Ao contrário, permeado de pedras e obstáculos, que são as adversidades, as frustrações, as desilusões. Da superação das dificuldades advêm alegrias e destarte aprimora-se a autoconfiança para novos embates. Há momentos em que os pais devem ser dispensáveis, e para tanto aos descendentes “devemos dar raízes e dar asas”.

2) Transmitir valores e um projeto de vida: desde pequenos é importante o desenvolvimento de valores intrapessoais, como ética, cidadania, solidariedade, respeito ao meio ambiente, autoestima. Quando adultos, serão flexíveis e versáteis, saberão trabalhar em equipe e resolver problemas, bem como estarão abertos ao diálogo, às mudanças e às novas tecnologias.

3) Equilibrar afeto e limites: a autoridade, quando exercida com equilíbrio, é uma manifestação de afeto e traz segurança. “O comportamento frouxo não faz com que a criança ame mais os pais. Ao contrário, ela os amará menos, porque começará a perceber que eles não lhe deram estrutura, se sentirá menos segura, menos protegida para a vida. Quando os pais deixam de punir convenientemente os filhos, muitas vezes, pensam que estão sendo liberais. Mas, a única coisa que eles estão sendo é irresponsáveis” – palavras muito pertinentes de Marilda Lipp, renomada psicóloga e professora paulista, autora de dezenas de livros.

4) Valorizar a escola e o estudo: pequenas divergências entre a escola e a família são aceitáveis e, quiçá, salutares. Nossos filhos e filhas precisam desenvolver a tolerância, a ponderação, preparando-se para uma vida na qual os conflitos serão inevitáveis. No entanto, na essência, deve haver entendimento entre pais e educadores. O educando é como um pássaro que dá os primeiros voos. Família e escola são como suas duas asas: se não tiverem a mesma cadência, não haverá uma boa direção de voo.

5) Dar a segurança do amor: importa mais a qualidade do afeto do que a quantidade de tempo disponível à criança, no entanto é preciso nutri-la afetivamente, pois a presença negligente é danosa para o relacionamento. É uma missão e um dever dos quais não se pode furtar. Amiúde, não raramente filhos veem-se órfãos de pais vivos. A vida profissional, apesar de suas elevadas exigências, pode muito bem ser ajustada a uma vida particular equilibrada. Dediquemos ao nosso maior tesouro a mesma urbanidade e atenção com que tratamos nossos amigos e colegas de trabalho, imprimindo um pouco de nós, pelo diálogo franco e adequado à idade.

6) Prover uma trilha para a espiritualização: manter a fé no Deus Criador, a Inteligência Infinita. Estimular a força das preces, das boas energias e do pensamento positivo, que promovem curas e nos confortam nas horas de sofrimento. Em conjunto, praticar a solidariedade voluntária e sincera. Sobre isso, Madre Tereza de Calcutá tem autoridade para nos ensinar: “as mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam”. São gestos que levam dignidade e autoestima, e o retorno é o prazer de ser útil, além de ser uma terapia edificante. Belas e oportunas são as palavras de Dalai Lama: “A ajuda aos semelhantes nos traz sorte, amigos e alegria. Sem ajuda aos semelhantes acabaremos imensamente solitários”.

7) Consentir que haja carências materiais: prover todas as vontades (brinquedos, roupas, passeios, conforto etc.) é uma imprevidência. Até quando vão perdurar essas facilidades? Muitas vezes, priorizamos aquilo que não tivemos em nossa infância, mas cabe a pergunta: estamos lhe dando aquilo que efetivamente tivemos e que nos proporcionou momentos felizes?

8) Conceder tempo para ser criança (ou adolescente): não se deve sobrecarregar os filhos com agenda de executivo -- esportes, línguas, música, excesso de lições etc. Ademais, é mister limitar o tempo diante da sedução e da passividade das telas. Se queimarmos etapas de seu desenvolvimento, serão adultos desprovidos de equilíbrio emocional. A infância precisa ser uma etapa de brincar, de partilhar e de conviver com os amigos, desenvolvendo-se assim a sociabilização, as faculdades psicomotoras e outras soft skills indispensáveis.

9) Criar bons hábitos alimentares e exercícios físicos: um dos principais legados é a saúde presente e futura da criança, a qual é diretamente proporcional à frequência e à regularidade da prática de esportes e da ingestão de proteínas, frutas, verduras, legumes e bastante água, somado à importante exposição ao sol, nos horários recomendados. Tais hábitos promovem o bem-estar, a autoestima e a boa disposição para a vida.

10) Delegar tarefas no lar: certamente haverá resistência, mas é importante que a criança tenha – proporcionalmente à sua idade – responsabilidades em casa, assumindo algumas tarefas como limpar o tênis, lavar louça, tirar ou colocar a mesa, ajudar nas compras e no seu acondicionamento, cuidados com o pet etc., além dos indispensáveis hábitos de higiene e organização de seu quarto.

Jacir J. Venturi foi professor e diretor de escolas públicas e privadas, professor e coordenador da UFPR, da PUCPR, da Universidade Positivo. Cidadão Honorário de Curitiba. Autor de livros e pai de 3 filhos e avô de 3 netos.

Jacir Venturi
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