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SER PROFESSOR NÃO É APENAS UMA PROFISSÃO - É MISSÃO

“Tratamos os professores como joias. Ser professor não é emprego, é o profissional responsável por moldar as futuras gerações” – este é o mote do país que apresenta um dos melhores resultados nas avaliações educacionais internacionais. Ostenta orgulhosamente que as suas “professoras primárias são apaixonadas pela Matemática” e nele os exames escolares são aplicados de forma padronizada a todas as instituições de ensino, o que afere a qualidade de cada uma delas. Escolhe os seus docentes entre os 5% dos estudantes com melhor desempenho e inicialmente os submetem a estágios probatórios e mentoria dos mais experientes. 

O leitor pode estar se imaginando: seria a Finlândia? Ou o Japão? Ou a Coreia do Sul? Até poderiam ser, pois são nações que também exibem elevado desempenho educacional, porém este país que retratamos tem a singularidade de ter tido, até a década de 1960, uma população majoritariamente analfabeta e pobre. Sim, sim... Singapura é o seu nome. 

Em consonância com todas as nações bem situadas nos rankings educacionais, propicia uma carreira de magistério com intensa qualificação profissional, reverencia os mestres com o merecido prestígio e glamouriza os apaixonados e vocacionados pela nobre missão de ensinar. E no decurso da carreira, os professores dedicam à capacitação 100 horas ou mais anualmente, com ênfase no desenvolvimento de novas metodologias, tecnologias de ensino e habilidades. E igualmente relevante: são avaliados sistematicamente, recebendo feedbacks acompanhados meritocraticamente pela oferta de bônus e prêmios. 

Um dos pontos-chave reside no fato de os professores serem amplamente reconhecidos pela sociedade, aspecto no qual o exemplo do Japão é igualmente oportuno e icônico: todos os súditos se inclinam ao saudar sua majestade, à exceção dos mestres, sob a prerrogativa de que sem bons professores não se faz um bom imperador. Por isso, resgatar o prestígio social dos nossos mestres talvez seja, aqui no Brasil, o primeiro passo para uma significativa melhora em nossa tão comprometida qualidade educacional, conquanto, sejam igualmente adotadas progressivamente as demais implementações estruturantes: avaliações padronizadas, feedbacks, capacitação, controles, oferta de bônus por resultados, adequação da infraestrutura física, adoção de novas tecnologias, etc. Obviamente, um esforço hercúleo será necessário, até porque boas iniciativas já implementadas nesse sentido naufragaram no Brasil por incúria administrativa ou diante das pressões corporativas ou ideológicas. Ademais, um simples incremento linear nos salários seria uma medida – além de inócua – irresponsável em meio às combalidas finanças públicas. 

Outro ponto relevante que merece ser atacado é a baixa atratividade da carreira docente, talvez o principal limitador para que os nossos jovens mais talentosos abracem a nobre missão de legar uma geração melhor que a sua. Pesquisa de satisfação entre os professores, conduzida pelo IBOPE Inteligência, destaca que cerca de um terço dos professores não se sente satisfeito com a atividade docente e metade dos professores não recomendaria essa profissão para um jovem. Motivos: desvalorização da carreira (48%); má remuneração (31%); dificuldades na rotina (15%). Quem adentra os umbrais da educação não desconhece os elevados desafios – mas outras profissões também não o têm? No entanto, há de prevalecer que nenhuma missão é mais grandiosa que a do educador, na qual não se tem o direito de ser mediano. E todo o professor deve adotar o seguinte lema: aula que tem que ser dada, merece ser bem dada e para tanto bem preparada. 

Para nosso alento, temos muitos vocacionados no magistério, apesar do pouco que a nação e a sociedade lhes oferecem, e o que os motivam são a paixão e o entusiasmo. A propósito, entusiasmo é uma das palavras mais belas do nosso léxico que provém do grego en-theo (en=dentro; theo=deus). Ou seja, tem um deus dentro de si quem tem postura entusiasta. 

Jacir J. Venturi, Coordenador na Universidade Positivo e membro do Conselho Estadual de Educação do Paraná, foi professor do Colégio Estadual do Paraná, EJA, Pré-Vestibulares, UFPR e PUCPR.

Jacir Venturi
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