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OS VERDADEIROS LÍDERES NÃO TEM O APLAUSO DO SEU TEMPO

“Nas veias dos demagogos não corre o leite da ternura humana e sim, 
o vinagre da burrice ou o veneno da hipocrisia.”
Roberto Campos (1917-2001)
 

Há governantes, líderes comunitários, empresários que vão além do seu tempo, deixando para trás uma maioria míope e reivindicadora. Têm postura de estadistas. São alvos da incompreensão, maledicência, isolamento e agressões. Num movimento pendular sobre suas cabeças, a espada de Dâmocles oscila entre o desagradável e o plausível, este, porém, muitas vezes inconseqüente.

Quando os bons dirigentes propõem mudanças, encontram uma resistência feroz por parte de muitos e o apoio tíbio de uns poucos. Confortam-se com o dever cumprido e com o julgamento da posteridade. Sim, a História – essa “juíza imparcial” − repara injustiças, mas tem o péssimo hábito de andar tão devagar que raramente alcança os grandes líderes em vida.

Há um descompasso entre o aplauso do seu tempo e o aplauso da História. Destarte, o populismo e a demagogia aliciam os líderes fracos como o canto da sereia. “Ainda não descobri a maneira infalível de governar. Mas aprendi a fórmula certa de fracassar: querer agradar a todos, ao mesmo tempo” – discursava apropriadamente John F. Kennedy (1917-1963), meses antes de ser abatido por tiros certeiros em Dallas.

Em 44 a.C., o mais renomado imperador romano, Caio Júlio César, foi atraiçoado por 23 punhaladas, vítima de uma conspiração. Suas palavras derradeiras demonstram antes de tudo um coração dilacerado pela ingratidão, especialmente de Brutus, filho único e adotivo: Tu quoque, Brutus, fili mi! (Até tu, Brutus, filho meu!). 

“Você pode enganar todo o povo durante algum tempo e parte do povo durante todo o tempo, mas não pode enganar todo o povo todo o tempo” − se faz oportuno Abraham Lincoln, o mais venerado presidente dos EUA. Poucos desconhecem as suas vicissitudes: perdeu as eleições para Deputado Estadual, para Deputado Federal, para Senador e foi assassinado por um fanático sulista em um teatro de Washington. Lincoln costumava repetir que se fosse responder a todas as críticas que lhe eram dirigidas, não trataria de mais nada.

Winston Churchill, ao assumir o governo de coalizão em 1940, proclamou em seu histórico discurso: I have nothing to offer but blood, toil, sweat and tears (Eu não tenho nada a oferecer, a não ser sangue, trabalho, suor e lágrimas). Churchill, hodiernamente considerado o maior líder do século XX, conheceu o gosto amargo do ostracismo e da ingratidão dos ingleses: sofreu derrotas em quatro eleições.

E o que dizer do maior estadista indiano? Para Mahatma Gandhi, a pobreza é a pior forma de violência. Acusado de traidor por fanáticos hindus, em 1948 foi vitimado pelas balas de um deles. Logo ele, o apóstolo da não-violência, que costumava catequizar: “olho por olho e o mundo acabará inteiramente cego.”

Também se faz apropriada uma breve incursão no reino animal. Em algumas regiões inóspitas da Ásia, há manadas de cavalos selvagens que galopam céleres as pradarias e montanhas guiados por um deles. É o cavalo líder e, quando este expõe os demais a uma situação de grande risco de vida, toda a tropa golpeia o líder com coices e patadas.

Um bando de macacos sempre escolhe um líder-olheiro, experiente e vivaz. Este é severamente punido se for negligente, não alertando a tempo a iminência de um perigo ou razia.

Se os animais são implacáveis com os erros e omissões de suas lideranças, nós, racionais, não deixamos por menos: defenestramos governantes. Collor (no Brasil) e De La Rua (na Argentina) e Nixon (nos EUA) são os exemplos mais eloquentes.

Vamos concluir parafraseando Dante: os piores lugares do inferno deveriam ser reservados a esses governantes, pois geram miséria, inflação e comprometem gerações. O conspícuo filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) já advertia que “a demagogia é a perversão da democracia”.

Jacir J. Venturi Diretor de escola, professor da UFPR por 25 anos e da PUCPR por 11 anos. Cidadão Honorário de Curitiba. Autor dos livros Álgebra Vetorial e Geometria Analítica e Cônicas e Quádricas.

Jacir Venturi
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