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Artigos

AS INTELIGÊNCIAS SÃO DIFERENTES

Ao desenvolver a Teoria das Inteligências Múltiplas, a partir de 1983, o professor e psicólogo da Universidade de Harvard, Howard Gardner, promoveu uma grande mudança na psicologia da aprendizagem. 

Com sua ira santa, Gardner investiu pesado contra os testes de QI (Quociente de Inteligência). Até então, quem tinha QI abaixo de setenta era alvo de preconceitos e discriminações. Não é difícil imaginar o sofrimento, a baixa autoestima, o bullying infringido aos estudantes com pífio desempenho acadêmico.

Há exemplos clássicos de celebridades que tinham talentos para além das salas de aula. Picasso foi péssimo aluno; porém, foi um gênio na inteligência espacial e na pintura – para Nilson Machado, é a inteligência pictórica.

Rudolf Nureyev também foi um dos últimos da classe. Seu professor anotou: “Rudolf fica pulando na sala como um sapo”. Entretanto, é considerado um dos maiores bailarinos de todos os tempos – tem a inteligência corpóreo-cinestésica.

Até os 25 anos, além de aluno medíocre, Francisco de Assis (1182-1226) foi um trovador hedonista e um jovem lascivo e belicoso. Renunciou a rica herança paterna e, por suas virtudes e atitudes exemplares, tornou-se o mais popular santo da Igreja Católica. É conspícuo o conjunto de suas inteligências: 1) naturalista, pois como irmão do sol, da água, dos animais, constituiu-se no precursor das causas ecológicas; 2) interpessoal, uma vez que era cordial, expansivo, alegre, afeito aos trabalhos comunitários, fundador e líder de uma importante ordem religiosa; 3) intrapessoal, foi asceta, humilde, pacifista e solidário com os pobres e doentes; 4) existencial, era espiritualista, místico e mais uma vez, irmão da morte corporal; 5) linguístico-verbal, foi pregador convincente, produziu belos textos e, dessa forma, foi considerado o primeiro poeta italiano (o Cântico do Sol é uma ode ao amor universal).

Em torno de 1905, o Ministério da Educação da França solicitou ao psicólogo Alfred Binet uma forma de mensurar a inteligência. Binet e sua equipe criaram os testes de QI que mediam primeiramente a capacidade de raciocínio do aluno e, em seguida, avaliavam as aptidões linguísticas e a coordenação motora. 

Piaget, que trabalhou no laboratório de psicologia experimental de Alfred Binet, também destacou a importância da lógica. Por sua vez, o psicólogo americano Daniel Goleman introduziu o conceito de inteligência emocional como uma habilidade mental distinta da inteligência racional. Tal fato faz constatar o quanto pode ser difícil conviver com pessoas “inteligentes” e desprovidas de equilíbrio e bom senso.

Coroando esse espectro de teorias, Gardner afirma que a habilidade mais admirada no mercado de trabalho é a “combinação da união do pensamento lógico à capacidade de lidar com as pessoas”. O maior mérito de Gardner foi valorizar e inserir em sua teoria as inteligências interpessoal e intrapessoal.

Apesar dos conflitos, a diversidade é uma riqueza. O mundo é diverso. Além disso, o mundo é adverso; talvez por isso, tantos de nós sonhemos e procuremos desenvolver relações humanas pautadas em valores, na ética, empatia, no respeito e sob um profundo comprometimento com causas ambientais e comunitárias.

A viga-mestre que sustenta o edifício gardneriano se resume a duas frases: “Não existe uma inteligência geral. As inteligências são diferentes e elas podem e devem ser desenvolvidas”.

A criança nasce com vantagens e desvantagens genéticas; consequentemente, terá grandes potencialidades em algumas áreas e limitações em outras. A escola e a família sempre suscitam respostas positivas por parte do aluno quando oferecem condições adequadas de aprendizado e um ambiente estimulador, que o leve ao autoconhecimento.

Jacir J. Venturi Diretor de escola, foi professor do Ensino Fundamental e Médio, do Pré-Vestibular e da UFPR e PUCPR. www.geometriaanalitica.com.br

Jacir Venturi
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