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MÃE É BÚSSOLA, GPS E MULTIFUNCIONAL

Quando um aparelho realiza três funções, dizemos que é multifuncional. O que dizer de uma mãe? Na árdua frágua da semana executa dezenas de atividades: provedora, psicóloga, enfermeira, motorista, cozinheira, passadeira, mulher, filha, irmã, amiga, etc. E, antes de tudo educadora, pois as mães são e sempre foram as maiores educadoras de todos os tempos. Tive um excelente professor de História que ensinava que antigos povos conquistadores, ao se apoderarem de uma região, matavam os homens e mantinham vivas as crianças e as mães, porém destas decepavam a língua. Assim, a cultura, a tradição e os costumes desapareciam, surgindo uma nova geração nos moldes dos invasores.

Em passado recente, as mães eram bússolas, pois mostravam o norte, repassando valores e bons hábitos. Hoje, mães são GPS, pois, além da educação e dos bons ensinamentos, mostram cada detalhe da caminhada do filho. Sim, temos hodiernamente uma relação mãe e filho mais personalizada e interativa. Mais enlevo, mais qualidade de afeto e, não menos importante, muita tecnologia disponível e a melhoria das escolas de educação infantil, fazem com que as crianças recebam estímulos bem além das gerações anteriores. Oportunas são as palavras da educadora Rosely Sayão: “O mundo mudou muito e as crianças também. Só uma coisa não mudou: elas continuam a necessitar da presença cuidadosa, reguladora, protetora e dedicada dos adultos.”

O grande desafio ao educar um filho é acertar na medida, pois ensina a sabedoria popular que a diferença entre o remédio e o veneno é uma questão de dosagem. E aqui me detenho para instigar o(a) leitor(a) a uma reflexão, embora o que vamos afirmar é de difícil mensuração. Fruto de leituras, diálogos, observações, inclusive em escolas e famílias estrangeiras, suspeito que as mães brasileiras – na média – são das mais superprotetoras e sobrecarregam-se para poupar a criança ou adolescente.

Em decorrência, nada mais certo que o arrependimento futuro, pois aquela supermãe, tão eficiente no seu papel de bússola, GPS e multifuncionalidade – mas que pouco compartilha as tarefas – paradoxalmente é falível no que é preponderante: não prepara o filho para a vida adulta permeada de adversidades e frustrações e para a qual exige-se autonomia e autoconfiança. A psicóloga Maria Estela A. Santos é enfática: “Um filho superprotegido possivelmente será um adulto inseguro, indeciso, dependente, que sempre necessitará de alguém para apoiá-lo nas decisões, nas escolhas, já que a ele foi podado o direito de agir sozinho.”

A prática deve ser: com bom senso, ensina-se e delega-se ao filho tudo o que ele tem capacidade física e intelectual para realizar. Destarte, é imprescindível que o “reizinho” assuma algumas tarefas domésticas como limpar o tênis, guardar as roupas e os brinquedos, ajudar nas compras, organizar a mesa, lavar louça, alimentar e limpar a sujeira do cãozinho, e outras. Que assuma sozinho os hábitos de higiene pessoal e mantenha arrumado o seu quarto. 

É trabalhoso criar esses hábitos e amiúde a mãe se pergunta se vale a pena em meio a tantas resistências, aborrecimentos, chiliques, e até mesmo advém o convencimento de que é mais fácil fazer as coisas sozinha e deixar o filho à vontade. No entanto, perde-se uma oportunidade única e é pouco provável que a nossa super-heroína se livre das consequências futuras. E o mais importante: essa dura tarefa tem que ser compartilhada por todos os adultos da casa, que têm que ter uma unidade de verbalização e uma prática modelar.

Jacir J. Venturi, diretor de escola, professor e pai de três filhos.

Jacir Venturi
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