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PROJETO amo CURITIBA
As escolas particulares possuem um potencial extraordinário, pois, na média, é elevado o padrão sociocultural dos pais e alunos. Esse potencial, no entanto, é pouco utilizado na promoção da cidadania e da justiça social. Boa parte dos futuros líderes do país está hoje ocupando as carteiras das escolas privadas.
Por esse motivo, as escolas particulares desenvolveram um projeto denominado amo CURITIBA. Tem por objetivo promover, divulgar e fortalecer ações voluntárias das escolas particulares, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população curitibana, proporcionando dignidade e respeito à comunidade e ao meio ambiente.
O projeto amo CURITIBA é resultado da consulta a 1 900 alunos de três escolas particulares. Participaram do trabalho mais de 170 pessoas, entre professores, coordenadores e diretores. O mérito está no fato de que o projeto é fruto não de uma pessoa ou de um grupo fechado, mas se caldeou na frágua dos anseios e da disposição de pré-adolescentes e adolescentes do Ensino Fundamental e Médio.
Antes da consulta aos alunos, foi feita uma prévia apresentação, mostrando uma Curitiba além dos nossos olhos, além da “torre de marfim” que muitas vezes nos encastela:
a) Cerca de 200 mil pessoas vivem nas favelas de Curitiba. São 122 favelas, o que corresponde à quinta cidade do Brasil (IBGE) com maior número de favelas.
b) A boa gestão de diversos prefeitos fez com que Curitiba merecesse os epítetos de cidade ecológica, primeira cidade de qualidade de vida, cidade da eficácia do transporte coletivo, etc. No entanto, Curitiba é hoje uma megacidade, constituída de um centro pujante, alguns bairros de classe média e alta, porém envoltos por um cinturão de miséria. Existem favelas em 42 bairros de Curitiba.
c) Nos últimos 10 anos, a taxa de crescimento da periferia de 50 megacidades do Brasil (entre elas Curitiba) foi de 30% contra 5% da população mais rica. O índice de homicídios saltou de 30 para 150 por 100000 habitantes (padrão colombiano). O crescimento é desordenado e ocorre em velocidade superior à capacidade das autoridades decontê-lo.
d) A cidade de Curitiba detém muitos índices positivos e que foram repassados aos alunos, pois não há motivo para se criar uma imagem catastrofista. No entanto, quase metade (45,5%) da população já foi vítima de assalto. O Paraná é o 5.o estado no ranking de automóveis roubados. O Brasil já é recordista mundial em blindagem de automóveis: 5 mil por ano.
e) Aos alunos foram apresenta dos diversos serviços e programas comunitários, uma vez que impera na cabeça de muitos que os problemas sociais constituem uma incumbência do Poder Público. A bem da verdade, este não consegue atender a tanta demanda, e os recursos são limitados.
f) Há uma mudança cultural em relação às ações voluntárias – mais responsáveis e menos paternalistas −, sendo enormes as perspectivas de crescimento para os próximos anos. Ademais é louvável a sua valorização aos candidatos a emprego em diversas empresas.
g) Enfatizou-se aos alunos que o presente projeto não possui vínculo a nenhum partido ou credo. No entanto, todas as religiões apresentam em sua doutrina o comprometimento em ações sociais. Uma boa parte dos jovens encontra na religião a principal motivação para solidariedade: você leva aquilo que doa.
h) O Brasil não é um país pobre, antes de tudo é um país injusto.
i) É um grande erro não fazer nada, quando se pode fazer pouco ao não se poder fazer tudo.
Depois de terem sido mostrados esses relevantes fatos aos 1900 alunos, foi apli cada a consulta. Assim, os alunos receberam um papel com uma logomarca: um ser humano estilizado com coração inflado pelas ações voluntárias. Este símbolo foi criado especialmente para esse projeto, sendo uma cortesia de um conceituado publicitário. É inquestionável que a palavra CURITIBA tem um forte apelo junto aos jovens, daí a necessidade de fazê-la presente na campanha.
Quanto ao desejo dos 1900 jovens consultados de participar ou não do projeto amo CURITIBA, obtivemos aproximadamente as seguintes respostas:
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8% já participam de ações comunitárias com doações ou com seu tempo;
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71% gostariam de participar (mas boa parte não sabe como);
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11% disseram não dispor de tempo ou têm outras prioridades;
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5% manifestaram-se com descrédito, pilhéria ou humor;
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5% não responderam.
Assim, dispomos de um acervo precioso quanto à disposição dos adolescentes em participar de ações voluntárias. É evidente que, na prática, nem tudo são rosas, pois entre o aluno se manifestar e praticar há, no meio, um mar.
É pertinente o pensamentro de George Santayana (1862-1952), filósofo americano de origem espanhola:
“As pessoas podem ser divididas em três grupos:
- os que fazem as coisas acontecerem;
- os que assistem às coisas acontecerem;
- os que ficam se perguntando o que foi que aconteceu.”
É atribuição dos pais e educadores fazer com que os jovens do 2º e 3º grupos, que são a maioria, subam para o 1º grupo. Ou teremos que conviver com uma geração hedonista e alheia aos problemas sociais. Site: www.amocuritibacuritiba.org.br e-mail: amocuritiba@amocuritiba.org.br
Jacir J. Venturi Diretor de escola, professor da UFPR por 25 anos e da PUCPR por 11 anos. Cidadão Honorário de Curitiba. Autor dos livros Álgebra Vetorial e Geometria Analítica e Cônicas e Quádricas.