Artigos
BULLYING, O TERMÔMETRO DA MORAL DA ESCOLA
A intensidade do bullying indica o quanto moralmente a escola está comprometida. E onde mais se pratica? Segundo pesquisas, nessa ordem: salas, recreios, entradas e saídas. Reiteradas vezes se ouve a analogia a uma barrica de maçãs, onde por falta de uma boa assepsia se depositam no fundo ácaros ou mofo que infestam os demais frutos. No ambiente escolar, essa infestação pode se disseminar como decorrência da falta de regras claras e de punição adequada, conflitos mal resolvidos, ausência de uma cultura mais humana no colégio ou em casa. Em instâncias judiciais de diversas cidades, já foram responsabilizados com indenização pecuniária os pais, professores e gestores escolares. A estes cabem duas frentes de combate: prevenção e ação. É preventiva a prática de uma cultura de respeito, tolerância e aceitação de que somos diferentes. Ação vigilante e punitiva sobre os agressores. Em resumo: ação como remédio e prevenção pelo comportamento ético.
A escola é um laboratório para a vida adulta. Evidentemente o mundo do trabalho é competitivo e em determinados momentos a tolerância às hostilidades é necessária. Esse aprendizado deve ser gradual – não pontualmente intenso, uma característica do bullying – para os ensinamentos de que o caminho a ser percorrido na vida não é plano, florido e pavimentado. Quem não foi alvo de apelidos, gozações, ofensas em sua trajetória escolar? Em boa medida, a escola deve punir. No entanto, a palavra bullying está sendo empregada indiscriminadamente. O ambiente escolar é um cadinho de humanos e é ilusão aspirar a que estudantes se comportem como noviças numa clausura. Num crescendo, o educando vai assimilando as oportunas lições das alegrias e agruras na convivência com os colegas e destarte torna-se mais robusto para o enfrentamento dos desafios e frustrações. As raízes de um carvalho só se fortalecem pala ação das inclementes rajadas de vento. E cada vitória tem o sabor de uma perdoável vingança, como as palavras de Kate Winslet – vítima por ser uma adolescente rechonchudinha – ao receber o Oscar de melhor atriz, por sua atuação no filme O Leitor: “Lá do palco, quando olhei a plateia, não vi nenhum dos meus agressores”.
É um exemplo de superação. Neste espectro porém, há um outro extremo, fruto de bullies (agressores) sistemáticos e que agem sadicamente sobre vítimas portadoras de desequilíbrios ou com elevada sensibilidade. É um solo minado, com consequências nefastas, como a tragédia numa escola de Realengo (RJ), em 7/4/11, quando 12 alunos foram assassinados por Wellington de Oliveira, franzino e introspectivo e que foi alvo constante na escola de seus colegas algozes. Um legado trágico sucede suas palavras escritas na véspera: “Muitas vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos os que estavam por perto se divertiam com as humilhações que eu sofria, sem se importar com os meus sentimentos. Embora meus dedos sejam responsáveis por puxar o gatilho, essas pessoas são responsáveis por todas estas mortes, inclusive a minha”.
Essa violência repetida e praticada entre iguais deixaram marcas leves em Kate e profundas em Wellington. São marcas que geraram sofrimento, provocadas pela insensibilidade moral do bully (agressor). É necessária uma ação pedagógica e punitiva, pois os estudos comprovam que a criança ou adolescente praticante do bullying, quando adultos tenderá à violência doméstica e desvios de conduta como furtos, álcool, drogas e crimes. Nós, educadores, devemos atacar as causas para que a consciência não nos acuse quando vierem as consequências. A vítima sofre pela rejeição, pelo não pertencimento ao grupo. É um sentimento que dói intensamente, como se infere das palavras do filósofo norte-americano William James (1842-1910): “O princípio mais profundamente enraizado na natureza humana é a ânsia de ser apreciado”.
Jacir J. Venturi, Foi professor da UFPR e da PUCPR. Autor dos livros: Álgebra Vetorial e Geometria Analítica (9.ª ed.); Cônicas e Quádricas (5.ª ed.) e Da Sabedoria Clássica à Popular (3.ª ed.).